Recordações, pontos de referência e conquistas
Zenóbio Oliveira
Às vezes,
atordoado nos labirintos intricados dessa modernidade malsã, eu corro de volta
para os meus pontos de referência em busca da motivação para a vida. E o
Educandário Dixseptiense, que era Ginásio Comercial quando da minha chegada
após vencer o Exame de Admissão, é uma das maiores referências que tenho. É
claro que o tempo não permite o regresso físico, presencial, mas quando vejo um
retrato desses, meu coração fica me importunando, me puxando pelo braço,
querendo voltar de fina força.
O tempo era de
intempéries, como bem disse Paulo Martins.
Pra pagar esse
Bamba preto aí da chapa, por exemplo, eu tinha que apanhar algodão lá no roçado
de Chico de Izidério, de cinco as cinco, e puxar duas léguas de estrada no
retorno pra poder responder presente na aula de Seu Zé Florêncio. A coisa
funcionava no limite do humano e, muitas vezes, assistia às aulas com fome,
pois quando não era o alimento, era o tempo que me faltava. Pode perguntar aos
meninos lá das Aguilhadas que eles dão conta dessa história, pois foram
cúmplices desses mesmos fatos, foram vítimas dessas mesmas agruras.
Nos tempos de
enchentes do rio a coisa piorava. Só havia uma canoa e era paga. Não se podia
engrossar as despesas, porque no fim da invernada não tinha como fechar a conta.
O jeito era se arriscar um pouquinho na travessia. Eu usava um cavalete de
mulungu e minha irmã uma câmara de ar de carroça, arranjada a Mundinho de Bil.
Era difícil, era
muito difícil.
Mas foi nosso
ponto de partida para o que conquistamos e isso valoriza a recompensa. A
dificuldade é o útero da essência, porque essência é o que vejo nestes meus
companheiros de luta aí dessa fotografia, homens e mulheres íntegros e
consolidados como cidadãos de bem e de caráter.
Estou agradecido
por esta postagem.
Desde então,
corro as vistas da lembrança pelo jornalzinho “Beija Flor” de Neto de Fausto,
espicho a atenção das minhas ouças para escutar, no silêncio do passado, a
prosa jovial de Aristeu e Neto de Zé Nunes. Paira no céu das minhas sensações o
riso eternal de Antonio Costa e ainda retine nos vãos de minha memória a
gargalhada espontânea de Seu Tonho de Valdemiro.
Todos estes
rostos me transmitem contentamento. Todos vocês, graças a Deus, são
protagonistas da minha história.
A recordação
desses momentos é uma saudade lacrimosa da minha alma, mais pela alegria do
revivescimento do que pela dor da ausência, porque como disse o poeta: “a
saudade é uma dor que não dói”.
Zenóbio Oliveira é poeta, radialista e repórter-cinematográfico da Inter TV Cabugi, emissora afiliada da Rede Globo
Paulo, marque a vc nessa foto.
ResponderExcluirDébora
Ok. Vou marcar. Obrigado.
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