Isabel Martins, Belinha, morre
em Gov. Dix-sept Rosado, aos 91 anos
Uma existência marcada pela dignidade
Quando alguem parte da vida terrena, e quando essa
pessoa é da família, vem à mente as qualidades e as marcas deixadas na sua
existência.
De tia Belinha (Isabel Fernandes da Costa), nascida
no dia 21 de junho de 1932, filha de Paulo Martins da Costa e Benta Martins da
Costa, a qualidade que mais me chamava atenção era a resiliência, no sentido de
permanência no seu espaço.
(Nos últimos anos, tia Belinha viveu numa casa
situada na Rua Vicente Valentim do Vale, em Gov. Dix-sept Rosado, até o dia da
sua partida, em 11 de março de 2024).
Vem à mente também as idas nos tempos da infância, à
humilde casa de taipa, onde eles moravam, localizada na lagoa da Cigana, onde
hoje ficam os fundos do restaurante do comerciante Marcos Antônio Pereira
(Marquinhos de Naci de Afonso).
Ainda sobre a resiliência de tia Belinha, ao ser
abordada por outra pessoa para se mudar de sua casa para a de outro familiar,
devido a fragilidade da saúde, por causa da idade avançada, e por uma questão
de segurança, ela sempre resistiu bravamente à ideia (e bote valentia nisso).
Enquanto reuniu forças, viveu numa casa situada na
Rua Vicente Valentim do Vale, em Gov. Dix-sept Rosado, até o dia da sua partida,
em 11 de março de 2024. Ali, fez a sua comida, caminhou com as próprias pernas,
sobreviveu com os recursos de sua aposentadoria, de modo que o que era pouco parecia
ser suficiente para ela.
A impressão é de que viveu como se não tivesse
pressa para partir. Isso me fez lembrar do velho maratonista indiano Fauja
Singh, que fez sua última prova, em percurso de dez quilômetros, aos 101 anos
de idade, na China.
Certa vez, quando lhe perguntaram qual o segredo
para a disposição, apesar da idade avançada, Fauja Singh respondeu: “Dou um
passo depois do outro”. E disse mais o velho corredor, em relação à saúde: “Só
como o que preciso”.
Nas visitas a ela, vez por outra surgiam situações
inusitadas. Numa delas, ela apontou para a casa de um dos vizinhos e, na ponta
dos pés, apontando com o dedo indicador, disse em voz alta algo que não era
exatamente um elogio.
Preocupado, pedi a ela para não dizer aquilo, pois
podiam ouvir e não gostar. Mas, não era fácil convencê-la, quando ela colocava
algo na cabeça.
Em outra visita, vi umas xícaras chamadas Duralex e
demonstrei a minha admiração por ela ainda as possuir, tão bem conservadas. Ao
mesmo tempo, eu disse que também tinha duas daquelas xícaras em casa.
Na ocasião eu tinha levado algo simples para ela. Na
hora da minha saída, generosa e como querendo me retribuir, insistiu para que
eu aceitasse duas xícaras. Não houve jeito e tive que aceitar o presente, dado
por ela com tanto carinho.
Quem a conheceu de perto, guarda na memória a
lembrança de ter convivido com alguem tão simples e ao mesmo tempo tão
singular, de personalidade autêntica e marcada pela dignidade. Creio que o
razoável número de familiares e amigos que compareceram à sua casa, na sua
despedida, atestam as singelas palavras escritas aqui.