domingo, 14 de setembro de 2014

Faleceu na noite de ontem (sábado, 13 de setembro), seu João Agripino de Freitas, conhecido comerciante do município de Governador Dix-sept Rosado.

Em homenagem à memória de seu João Agripino, Compartilho texto publicado em 20/09/2009, no www.paulomartinblog.zip.net


João Agripino, uma figura humana marcante

Seu João Agripino era o dono de uma das mercearias da cidade, que, na época, muita gente em Dix-sept Rosado chamava de “bodega”, mesmo. A bodega de seu João Agripino era ponto de encontro, no Mercado Público. Lá, o pessoal ficava por dentro dos assuntos da cidade. Coisas da vida pessoal e da política em Dix-sept Rosado e no Estado.
À época, eu havia chegado da zona rural para frequentar a escola na cidade. Era menino de 9 anos e minha tia, com quem eu morava, na Rua Padre Florêncio, mandava fazer pequenas compras na bodega de seu João. Naquele tempo, menino gostava de fazer “mandado”, sentia-se útil, sentia-se valorizado. “Mande, que ele vai e volta logo”. Bastava um pequeno elogio para se sentir importante e sair de peito estufado. Ia com muito prazer comprar açúcar, feijão, para as vizinhas, dona Maria de Pedro Viana, um melhoral, na Farmácia de Manoel Cardoso, para dona Maria, mulher de seu Antonio Maranguape. Minha tia, Lirinha de Chico Bacatela recomendava: “Vá num pé e volte no outro”.
Mas, quando era na bodega de seu João, eu demorava um pouco, mesmo sabendo que, na volta, o sermão seria inevitável. Apesar de ser muito tímido, beradeiro do mato como se dizia, ficava num canto, escutando as conversas dos mais velhos e doido para ler os jornais de Natal e Mossoró. Esperava pacientemente que os adultos lessem o “Diário de Natal” e a “Tribuna do Norte” e torcia que, depois que os jornais passassem de mão em mão, não fossem logo devolvidos a seu João Agripino, e alguém os esquecesse em cima do balcão. Lia um pouco até que um ou outro dissesse, com pose de dono do pedaço: “Ei, menino. Me dê esse jornal, que é de seu João”.
Era muito difícil o acesso a revista ou jornal. Lembro que muitas vezes lia alguma notícia, no jornal “O Mossoroense”, da seguinte maneira. Meu pai comprava sabão em pedra e os donos de bodegas da cidade, como seu João, embalavam as barras de sabão com as páginas de jornal. Quando minha mãe desembrulhava o sabão, eu já estava ali, perto, para fazer a minha leitura de “O Mossoroense”. Salvo engano, havia as colunas de Dorian Jorge Freire, “Cota Zero”, e de Jaime Hipólito Dantas, “Conversa da Manhã”.
Alguém jamais sonharia que um dia viesse a existir a Internet e suas ferramentas revolucionárias. Na cidade, quase ninguém tinha telefone, além do telefone da Estação do Trem, o da Telern e o da Prefeitura. O e-mail da época era o telegrama. E só recebia telegrama pessoas de boas condições financeiras. E quando recebia, podia se preparar que raramente não trazia notícia ruim, como o falecimento de ente da família ou um amigo muito próximo. 
Seu João Agripino era homem atualizado e bem informado. Estava a par dos bastidores da política, dos negócios, do futebol e sabia do que acontecia em Dix-sept Rosado porque, quem freqüentava o comércio dele, fazia questão de contar as novidades. A bodega de seu João era, de certa forma, a nossa lan house. E a gente "navegava" por lá.
Mas não era só nisso, que seu João Agripino estava à frente. Ele acompanhava também os noticiários do rádio e da televisão. Na época também não havia repetidora de TV nem antena parabólica na cidade. Na maioria das casas onde havia televisor, o sinal era péssimo e a imagem “fugia” o tempo todo. Mas, lá em seu João, havia um "segredo" e a imagem era de primeira qualidade.
Na decisão do campeonato paulista de 1977, entre Corinthians e Ponte Preta, muita gente da cidade não quis arriscar a assistir o jogo em outro lugar, que não fosse a casa de Seu João. Fazia 23 anos que o Corinthians não ganhava um título. Houve uma “invasão” na casa de seu João Agripino. No primeiro jogo, Corinthians 1 x 0. A maioria esmagadora torcia pela Ponte Preta. Armando Filho, muito jovem e um grande amigo de seu João, comandava os poucos torcedores corintianos. A “Macaca” ganhou por 2 a 1, de virada. O camisa 10, Dicá, empatou, cobrando falta, e o centroavanate Ruy Rei virou a segunda partida para a Ponte. A turma quase tira o coro de Armando Filho, que ficou muito triste, enquanto os anti-corintianos faziam a bagunça na casa de seu João Agripino. No terceiro e decisivo jogo, o meia Basílio fez o chorado gol do título para o Corinthians.
No ano seguinte, eu passava em frente da casa de seu João para falar com Ênio, seu filho, de quem fui colega na Escola Jerônimo Rosado e amigo das peladas de futebol. Havia muita gente na casa, localizada na Rua Machado de Aguiar. Então, perguntei o que estava acontecendo. Ao que alguém respondeu: “Estamos querendo saber quem matou Salomão Hayala”. Era o último capítulo da novela “O Astro”, de Janete Clair, que fez muito sucesso naquela época. Acho que havia mais gente do que na decisão do futebol. Tanto que seu João perdia a paciência, porque alguns subiam nas cadeiras e no sofá da casa.
Seu João e sua família pagavam o preço por terem a melhor imagem da TV Verdes Mares, de Fortaleza, afiliada da Rede Globo, em Dix-sept Rosado.
Foi assim que conheci seu João Agripino. Apesar de ser mais jovem, ele me dava bastante atenção e eu gostava de ouvir suas histórias, pontos de vista sobre o esporte, a política e outros assuntos, sobre os quais demonstrava ter conhecimento. E seu João gostava de compartilhar com as outras pessoas. Os jornais, a televisão, a amizade.
Seu João Agripino é uma das figuras marcantes da paisagem humana de Governador Dix-sept Rosado.
  
 Escrito por Paulo Martins às 12h43

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Dix-sept Rosado
Lixo, mato e resto de material de construção 
são jogados às margens do rio Apodi-Mossoró










O rio Apodi-Mossoró corta o município de Governador Dix-sept Rosado numa extensão superior a 30 quilômetros. Só pela sua dimensão, dá pra ter uma ideia do significado dessas águas para a população. Mas, o descaso do poder público contribui para a poluição do rio.

A ação depredadora do homem devasta um manancial de riquezas. Lixo, mato e resto de material de construção são jogados às margens do rio e arrastados para seu leito (à saída para a cidade de Caraúbas).

Gradativamente, desfaz-se o cenário de beleza que enche os olhos de quem contempla as águas, outrora límpidas.

Mesmo assim, o rio Apodi-Mossoró ainda abastece parte da população de Governador Dix-sept Rosado.

Pequenos produtores rurais, situados às suas margens, utilizam as águas do rio na exploração de atividades agrícolas. A criação de animais também depende do Apodi-Mossoró.

Resultado do trabalho duro de anos seguidos, sol a sol, com a renda gerada da agricultura familiar, esses produtores sustentam suas famílias e educam seus filhos.

As mãos calejadas e o suor do rosto proporcionaram a formação de professores, assistentes sociais, historiadores, administradores, economistas, engenheiros, médicos e advogados, entre outras áreas do conhecimento.

Contudo, enquanto os poderes públicos permanecem indiferentes e inertes, a fonte de riquezas do rio Apodi-Mossoró vem sendo devastada e pode se esgotar.